O torcedor e a política do Palmeiras
Ainda
estamos assistindo aos desdobramentos da entrevista concedida pela presidente
da Sociedade Esportiva Palmeiras, Leila Pereira, no dia 11 de outubro. As
palavras da presidente causaram revolta na torcida que canta e vibra, que usou
as redes sociais para repudiar as falas da mandatária. Vale destacar que as
críticas não vieram apenas das arquibancadas, mas vieram também de membros do
Conselho Deliberativo, de ex-jogadores, jornalistas e palmeirenses ilustras,
mostrando a gravidade das declarações feitas pela presidente.
Mesmo
depois de vários dias, a entrevista ainda estava viva na memória dos
palmeirenses e acabou sendo tema dos pronunciamentos de conselheiros na reunião
do Conselho Deliberativo ocorrida na segunda-feira (23) na sede social do
clube.
Se há algo
positivo que pode ser tirado desta entrevista infeliz, é o fato da política do
Palmeiras ter recebido holofotes e a atenção de muitos torcedores comuns,
quebrando a redoma que mantinha o torcedor afastado desses debates.
Mas sou
obrigado a fazer o seguinte questionamento: é importante que o torcedor comum
conheça e participe da política interna do Palmeiras?
Em minha
opinião a resposta, neste momento, é sim. E enfatizo que é importante a
participação do torcedor comum na política do clube NESTE MOMENTO. E por quê?
Vou tentar responder em poucas palavras.
A Sociedade
Esportiva Palmeiras não é só futebol. Apesar de ter iniciado com o futebol e
ele ser o carro-chefe até hoje, como o próprio nome sugere o Palmeiras é uma
sociedade esportiva que trabalha com a promoção de diversas modalidades
esportivas. Hoje tudo isso está sob o mesmo guarda-chuva institucional e sob a
mesma administração.
O ideal
seria que o futebol fosse separado da área social e dos demais esportes. Vale
lembrar que entre os sócios do clube existem muitos que sequer são palmeirenses
e muitos que sequer gostam de futebol.
Por esta
razão creio que seria melhor que o futebol fosse separado do clube social e
ficasse sob o comando de palmeirenses e pessoas realmente interessadas em
futebol, sem que outros interesses interferissem nas decisões.
Acredito
que desta forma os sócios do clube social teriam o clube exclusivo que tanto
querem e os palmeirenses teriam melhores condições para acompanhar e participar
do seu time do coração.
A questão é
que para que esta separação ocorra será necessária a atuação da esfera política
do clube e o Conselho Deliberativo teria que aprovar as mudanças estatutárias
necessárias para que esta separação pudesse ocorrer. Por isso acredito ser
importante a participação do torcedor na vida política do Palmeiras, ainda que
esta participação se dê de forma indireta. Até que chegue o momento deste
debate, temos outras pautas mais urgentes que precisam da nossa atenção.
O torcedor
comum só se interessa pelo futebol, e se hoje está se interessando pela
política do clube é porque as decisões administrativas tomadas pela gestão de
Leila Pereira interferiram diretamente no desempenho do Palmeiras dentro de
campo. A nós torcedores não interessa os problemas das piscinas ou outras
coisas do tipo.
Se o
Palmeiras tivesse providenciado a reposição de Danilo e Scarpa, e recebido
reforços pontuais de qualidade, mantendo a nossa competitividade dentro de
campo, muito provavelmente estes problemas políticos teriam permanecido dentro
da bolha onde sempre estiveram e o torcedor não estaria interessado em conhecer
os meandros da política do clube, os conselheiros e saber das suas opiniões.
A decisão
da atual gestão de priorizar o equilíbrio financeiro mesmo que à custa do
desempenho dentro de campo se mostrou um equívoco e causou um desastre. A
gestão de Leila Pereira será conhecida como aquela que acabou com o melhor
momento vivido pelo Palmeiras nas últimas décadas.
Como já
escrevi antes, é óbvio que o equilíbrio das contas do clube é importante, mas
não pode ser feito à custa do futebol, que é o carro-chefe da nossa sociedade
esportiva. Se o futebol vai mal, isso respingará nos demais departamentos do
clube.
E aqui fica
evidente o conflito de interesses que a presidente Leila Pereira não consegue
(ou não quer) enxergar. Se o clube não tem os recursos para contratar as peças
necessárias para que o futebol permaneça competitivo, então é imperativo que a
exclusividade do patrocínio da Crefisa/FAM seja revisto, abrindo a oportunidade
para que outras empresas façam aportes no clube na forma de patrocínios.
Quando
Leila Pereira nega a outras empresas a oportunidade de patrocinar partes da
camisa do Verdão, a exemplo do que fazem outros times de expressão, ela está
pensando apenas nos interesses das suas empresas e não nos interesses do
Palmeiras, alegando estar apenas cumprindo contratos aos quais ninguém tem
acesso.
E tem ainda
a situação com a Placar Linhas Aéreas, que não vou detalhar aqui. Foram estas
situações administrativas que afetaram o desempenho do Palmeiras na temporada e
atraíram as atenções dos torcedores para o que acontece dentro dos muros da
sede social.
Tudo o que
o torcedor quer é ver o Palmeiras voltando a ser competitivo e temido pelos
rivais. Tudo o que o torcedor quer é que o Palmeiras mantenha os investimentos
pontuais que garantam a qualidade do nosso plantel, mantendo a nossa
competitividade dentro de campo. Nenhum time se mantém em alto nível sem
investimentos pontuais. Nós não estamos conseguindo nos manter no patamar que
nós mesmos estabelecemos.
O torcedor
também está interessado na política do Palmeiras porque está preocupado com o
planejamento para a próxima temporada. No momento temos todos os indícios para
acreditar que pouco ou nada mudará na próxima temporada. Ou seja, continuaremos
a jogar com um time mais que limitado, faltando peças para que o técnico tenha
opções para armar o time. Será difícil enfrentar equipes que já se reforçaram
nesta temporada e que certamente voltarão a se reforçar na próxima janela de
transferências.
Infelizmente
o futuro do Palmeiras depende mais da atuação dos bastidores e da política do clube
do que da atuação do time dentro de campo. E é isso o que tem gerado temor no
torcedor. Saber que o futuro da grandiosa Sociedade Esportiva Palmeiras depende
da atuação de pessoas que sequer gostam ou entendem de futebol, algumas nem
sendo palmeirenses, causa medo em qualquer torcedor.
Se o futuro
do Palmeiras depende da participação do torcedor na política do clube, ainda
que de forma indireta, o torcedor já mostrou estar disposto a pagar este preço
pelo seu clube do coração.
A pressão
seguirá e as cobranças continuarão até que os problemas sejam resolvidos, ou
até que o nosso time receba o que precisa para se manter competitivo e
vencedor.
Não podemos
nos iludir com as conquistas do passado, pois elas por si só não são garantias
de dias melhores. Mas são exemplos que mostram que quando as coisas são
conduzidas como se deve os resultados vêm.
Mais do que
lutar por um time competitivo, acredito também que o grande fator motivador do
interesse dos torcedores pela política do clube seja impedir que o Palmeiras
perca a sua alma. Nossa alma está nas arquibancadas. Somos nós que fazemos o
time pulsar. Somos nós que damos cara e voz à Sociedade Esportiva Palmeiras.
De nada
adianta uma defesa que ninguém passa e uma linha atacante de raça dentro do
campo se nas arquibancadas não tiver uma torcida que canta e vibra por nosso
Alviverde inteiro.
É isso que
lutamos para manter, e se for preciso nos envolver na política para atingir
este objetivo, por amor ao Palmeiras o faremos. Pode não dar em nada? Sim,
existe esta possibilidade. Mas assim como exigimos que os nossos jogadores deem
suas vidas em campo e lutem até o apito final, nós também faremos o nosso papel
e lutaremos pelo Palmeiras até o fim, em todas as esferas necessárias, seja na
arquibancada, seja na arena política.
Não é uma
luta fácil, mas qual luta é? Se fosse fácil não seria uma luta. E sem luta,
ninguém colhe os louros da vitória. E nós venceremos porque acima de tudo somos
palmeirenses!
A
alternativa a esta luta é a omissão. É nos abstermos de participar do combate
na esfera política, nos contentando com o que for decidido por terceiros. É
aceitar que reduzam a importância do torcedor na vida do Palmeiras. É abrir mão
do direito à crítica, já que se temos a chance de expor nossas opiniões e
sugestões, e não o fazemos por vontade própria, não teremos moral pra criticar
o que for decidido.
Se
acreditarmos que não cabe ao torcedor o envolvimento na política do Palmeiras,
então não há por que debater assuntos como contratos de patrocínio ou outras
coisas do tipo. Se o torcedor não quer se envolver com a política do clube,
então deve se limitar a assistir às partidas do Palmeiras e a criticar apenas o
que aconteceu dentro de campo nos 90 minutos de jogo.
Mas e o
ingresso caro? E o programa de sócio torcedor criado com o objetivo de obter
recursos para reforçar o nosso elenco e que não resultou em nenhuma contratação
que compense ao torcedor o ingresso no programa? E as camisas caras? Não são
assuntos que interessam diretamente aos torcedores e que dependem de decisões
políticas?
É por isso
que reafirmo a importância da participação do torcedor palmeirense na vida
política do clube, mesmo que esta participação seja de forma indireta. Muitas
decisões tomadas pelo Conselho Deliberativo e pela administração do clube
afetam igualmente o torcedor que participa da vida política e o que não
participa. Creio que quanto mais torcedores participarem, maiores as chances de
boas decisões serem tomadas. Decisões que favoreçam o Palmeiras e o
palmeirenses acima de tudo.
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