Crise no Palmeiras? O momento do Verdão – Parte III



A Família Abel Ferreira

 

Dando sequência a esta série de artigos a respeito do momento atual do Palmeiras, neste artigo quero voltar as atenções para o nosso elenco e a nossa comissão técnica. Ou melhor, quero analisar qual o papel do nosso elenco e da comissão técnica no momento atual do Palmeiras.

Não há dúvidas que temos uma comissão técnica vencedora e um elenco multicampeão. Mas isso não significa que sejam perfeitos. Eu reconheço os méritos dos jogadores e da comissão técnica em relação a tantas vitórias que comemoramos, mas acho que não podemos deixar que tais vitórias nos impeçam de reconhecer que há problemas também envolvendo nossa comissão técnica e nosso elenco.

Aqui vou me ater mais a questões organizacionais e menos a questões que envolvam o trabalho dentro de campo.

A torcida aumentou muito o tom dos protestos contra a diretoria, principalmente no que diz respeito à falta de contratações de reforços e reposições para o elenco. De fato, nos últimos anos vários dos nossos jogadores deixaram o elenco e nesta temporada perdemos dois jogadores importantes e que ocupavam posições na mesma região do campo, no caso o meio-campo. Refiro-me a Scarpa e Danilo, e todos concordam que são jogadores que estão nos fazendo falta.

A grande crítica da torcida em relação à falta de reposição de jogadores é que, nos casos específicos de Scarpa e Danilo, a diretoria sabia com bastante antecedência da saída de ambos e ainda assim até hoje estamos aguardando que seus substitutos sejam contratados.

Scarpa assinou seu pré-contrato com o Nottingham Forest em 09 de julho de 2022, selando assim a sua saída do Verdão. Em relação ao Danilo, a própria presidente do Palmeiras chegou a declarar que não venderia jogadores no meio da temporada, deixando claro que Danilo só sairia após o término da temporada, o que de fato ocorreu. Vimos o nosso jogador indo para o mesmo Nottingham Forest de Scarpa.

É importante esclarecer que as nossas dificuldades no mercado da bola não se devem a falta de boas opções ou por falta de recursos financeiros. Como mencionei nos artigos anteriores, o que mais prejudica o Palmeiras nas transações de compra e venda de jogadores é a incompetência dos nossos “profissionais” na negociação de atletas.

São vários os casos de jogadores que eram do interesse do Palmeiras e que chegaram a ser consultados, mas não chegaram a ser contratados por uma série de desculpas. A principal justificativa é que “os valores assustaram”. Porém, pouco tempo depois estes mesmos jogadores foram apresentados como reforços por outros times brasileiros, alguns com menos condições a oferecer a estes jogadores do que o Palmeiras.

Nosso elenco, que não era recheado, se tornou cada vez mais enxuto, mas não deveria ser um problema, já que o nosso próprio treinador afirmou publicamente preferir trabalhar com um elenco curto, mesmo com o calendário insano do futebol brasileiro.

Por outro lado, o próprio técnico alviverde também afirmou em coletivas que precisava de reforços e que gostaria de “jogadores prontos, pois não poderíamos cometer os erros do passado. E se for pra investir em apostas, já temos a base”.

Achei interessante ele se referir a erros do passado. Ficou evidente que muitas das nossas contratações foram erradas. E como já afirmei anteriormente, gastou-se muito dinheiro com contratações, mas contratamos mal. Assumimos compromissos financeiros por jogadores que não renderam dentro de campo e nem tem mercado pra revenda.

O nosso treinador já esclareceu em várias oportunidades que ele passou para a diretoria a lista com as posições e características dos jogadores que precisa. E a presidente deixou claro em várias ocasiões que todas as contratações são decididas entre ela, o diretor de futebol e a comissão técnica. Sabemos que o clube tem um departamento dedicado ao scouting. Então por que temos tanta dificuldade em fazer boas contratações?

É a comissão técnica que não sabe informar corretamente as suas necessidades? É o diretor de futebol que é incompetente para negociar os jogadores que se encaixam no perfil desejado? É a presidente que veta os negócios por conta dos valores, já que ela não quer “quebrar o Palmeiras”? A resposta parece envolver a todos.

Coloco parte da responsabilidade também sobre a comissão técnica, pois o nosso treinador sempre procurou fazer com que os jogadores se tornassem multifunção, jogando em várias posições diferentes. Se somarmos a isso o fato dele insistir por tempo demais em jogadores que visivelmente não entregam um futebol satisfatório, chegamos a um cenário onde as nossas reais necessidades em relação ao elenco podem ter sido subestimadas, fazendo com que a comissão técnica peça menos jogadores do que o realmente necessário.

Temos visto uma queda grande no rendimento dos jogadores dentro de campo, muito por conta do desgaste físico causado pela sequência insana de jogos do nosso calendário. Porém, não podemos nos esquecer que tal desgaste não é culpa do calendário, mas decorre do fato do nosso elenco ser curto demais e não possuir peças suficientes para que fosse feito um rodízio entre os jogadores. E tudo leva a crer que o elenco é curto por opção do nosso treinador.

Outro problema que contribuiu para o desgaste físico do nosso elenco foi a insistência do nosso treinador em utilizar muitos jogadores fora das suas posições de origem. Além de gerar um desgaste físico adicional aos jogadores, pelo esforço de apresentarem bons resultados em posições nas quais não dominam 100%, ainda temos uma queda de rendimento dentro de campo que já está nos prejudicando na temporada.

Até agora não consegui entender porque precisamos de um time com tantos jogadores atuando de forma improvisada. Entendo que em alguns casos isso ocorre por falta de peças devido ao elenco curto. Mas há casos nos quais o improviso ocorre por escolha do próprio treinador, mesmo com jogadores disponíveis.

É o caso do Dudu. Desde que ele retornou ao Palmeiras, já com a atual comissão técnica no comando, ele vem atuando fora da sua posição de origem e tem entregado um futebol muito abaixo do que é capaz de entregar. É evidente que Dudu vem sendo sacrificado em prol do time. E isso tem resultado em pesadas cobranças da torcida ao jogador, não ao técnico.

Aí eu me pergunto: o futebol não é um esporte coletivo disputado por times formados por onze jogadores que, ao menos teoricamente, são os melhores em suas posições? E pergunto mais: tirando os casos onde não há alternativas, qual o sentido de se tirar um jogador de sua posição, onde ele rende bem, para colocá-lo numa função onde ele não rende e faz com que outros jogadores rendam em campo? Esses outros jogadores não podem render por conta própria? Que raio de futebol é esse onde é necessário sacrificar um profissional para que outro possa apresentar resultados? Esta prática acaba favorecendo apenas os escolhidos do treinador.

Além dos problemas já citados, há também o problema que a comissão técnica tem em relação aos nossos atletas da base. O Palmeiras é um time formador e a cada temporada temos novos jogadores para incorporar ao elenco profissional ou para negociar no mercado. É evidente que a nossa comissão técnica não sabe como incorporar os jovens da base ao time profissional. 

E também é evidente que o nosso treinador só tem usado as Crias da Academia quando não há alternativas, fazendo com que os garotos entrem em campo em partidas difíceis ou decisivas, o que nem de longe seria o adequado. Isto é mais prejudicial do que positivo para os garotos. O fato de colocá-los em campo não significa que já estejam prontos. Os garotos precisam ter a sua formação concluída e isso se dá com tempo, com os jogadores jovens jogando junto aos profissionais e tendo sequência.

Se o nosso elenco é curto, se a nossa diretoria não sabe (ou não quer) contratar, e se já somos um clube que forma jogadores de qualidade, o Palmeiras deveria então ter um planejamento que visasse um maior aproveitamento dos nossos garotos. Este aproveitamento deveria ter se iniciado no início da temporada para que pudéssemos chegar neste ponto das competições com jogadores minimamente entrosados e preparados. Infelizmente esse trabalho não foi feito e fica cada dia mais evidente a dificuldade que o nosso treinador tem de lidar com jogadores mais jovens.

Se o treinador tem dificuldades para lidar com jogadores mais jovens, por que não contratamos jogadores mais experientes? Além da questão financeira, há o fato do nosso treinador aparentemente não ter interesse nos chamados “medalhões”. A mim não está claro se esta falta de interesse se deve ao receio de que este tipo de jogador possa trazer problemas ao vestiário, causando distúrbios na “Família Abel Ferreira”, ou se é devido à inexperiência da comissão técnica em lidar com este tipo de jogador.

Vale lembrar que o nosso treinador é jovem e o Palmeiras é o primeiro time de grande porte que ele treina. Ser inexperiente não é necessariamente um problema, mas se ele pretende um dia treinar grandes times europeus repleto de medalhões, precisa adquirir a experiência de lidar com estes jogadores o quanto antes.

Há muitos fatos que mostram que decisões da comissão técnica contribuíram para chegarmos ao momento atual. Obviamente a comissão técnica não é a única nem a maior responsável pelo que vivemos.

Enfim, creio que a nossa comissão técnica não está isenta de responsabilidade em relação aos problemas que enfrentamos. Afirmar isto não significa que eu queira a troca da comissão técnica. Eu apenas acho que precisamos analisar todos os ângulos quantos forem necessários para que possamos fazer uma análise que nos conduza o mais próximo possível da verdade.

E em minha opinião a verdade aparente é que estamos passando por uma imensa turbulência, e o que vai acontecer depende da forma como seremos conduzidos durante esta turbulência. Podemos sair rapidamente dela e voltar a voar em céu de brigadeiro, ou nossa trajetória poderá terminar em catástrofe.

Estamos nas mãos dos dirigentes do clube. Que todos realizem bem as suas funções, assumam as suas responsabilidades e nos conduzam com sabedoria. Enquanto há tempo.

Continua



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