Analisando a Coletiva Pós-Jogo #6

Analisando a Coletiva Pós-Jogo #6

Palmeiras x Santos - Clássico da Saudade - Paulistão 2023

 

O Palmeiras recebeu o Santos no Morumbi, no sábado (4), para o Clássico da Saudade válido pela 6ª rodada do Campeonato Paulista. Após a vitória do Alviverde por 3x1, o Professor Abel Ferreira concedeu a tradicional coletiva aos repórteres e jornalistas presentes no Morumbi.

Antes de analisar a coletiva do Professor, porém, eu gostaria de comentar rapidamente a coletiva do novo técnico do Santos, Odair Hellmann. Embora o foco aqui seja a coletiva do técnico do Palmeiras, achei interessante as colocações de Hellmann, principalmente após um clássico como o de hoje. As declarações foram muito lúcidas e ele se mostrou consciente do enorme desafio que terá que enfrentar para tirar o Santos da situação na qual se encontra. Não fez promessas mirabolantes como muitos fazem, a única coisa que prometeu foi muito trabalho e isso realmente ele terá pela frente.

Voltando à coletiva do Professor Abel Ferreira, a primeira questão foi sobre o gol do Santos, no último minuto da partida, e a reação de jogadores como Weverton e Murilo, que ficaram furiosos com aquele gol. Antes de falar especificamente sobre a situação que gerou o gol, Abel afirmou que deveríamos primeiro reconhecer o trabalho coletivo que foi realizado ao longo de toda a partida.

De fato, como até mencionei em minha resenha, essa partida contra o Peixe comprovou que o Palmeiras tem um excelente conjunto e que nossos jogadores têm uma consciência e obediência tática que impressionam.

E foi justamente isso o que causou as manifestações de raiva dos nossos atletas após o gol do Santos pois, como explicou o Professor, o gol ocorreu porque aspectos táticos para este tipo de situação não foram observados pelos jogadores. A reação deles, a meu ver, mostra também o quão comprometidos os nossos jogadores estão com o planejamento tático e com o trabalho em equipe.

Na pergunta seguinte, Abel foi questionado acerca de aspectos táticos. O jornalista quis saber se o fato do Palmeiras ter um ataque focado mais no lado direito trouxe preocupações pelo fato do Santos se defender mais nesse lado com jogadores mais velozes. O Professor respondeu dizendo que primeiro precisamos avaliar o nível do nosso oponente em relação a nós. Afirmou que no caso desse jogo, o Palmeiras deveria impor o seu jogo por ser uma equipe mais sólida que a do rival e que jogamos, atacando e defendendo, conforme as ações e reações do nosso adversário.

Este é um aspecto tático que considero bastante importante comentar. Muitas vezes quando a questão da obediência tática é abordada passa-se a ideia que os jogadores devem ficar presos a uma determinada posição ou a uma pré-determinada reação diante de determinadas situações de jogo. Obviamente não pode ser assim, pois uma partida de futebol é muito dinâmica e apresenta situações de jogo que nem sempre podem ser previstas antecipadamente.

A tão falada obediência tática dos jogadores alviverdes só funciona porque eles também desenvolveram uma consciência tática que permite a eles se adaptar rapidamente às situações de jogo e reagir da maneira mais adequada a cada situação. Isso nos faz voltar à resposta da primeira pergunta e ajuda a entender a reação dos nossos guerreiros diante do gol adversário que ocorreu justamente quando questões táticas não foram devidamente observadas.

A questão seguinte foi sobre a intensidade apresentada pelo Palmeiras pois, passado menos de um mês do início da temporada, o Verdão já disputou um título e jogou dois clássicos. O Professor foi questionado se o Alviverde já está no nível que ele considera ideal ou se tem mais a melhorar.

Abel Ferreira começou a sua resposta explicando que existe um plano traçado e que a diretoria e a comissão técnica estão alinhados para seguir este plano independentemente dos resultados dentro de campo. Afirmou também que nosso time tem melhorado a cada partida e que como o futebol é muito volátil, é necessário que todos estejam sempre prontos a dar o seu melhor.

Aqui abro um pequeno parêntesis pois pelo que me lembro foi a primeira vez que ouvi o Professor mencionar a palavra "bosta"!

Seguindo na resposta, Abel Ferreira explicou que muito antes de ser competitivo em relação aos seus adversário, o Palmeiras é competitivo internamente. Além disso, a força do time está no coletivo e não no individual e por isso o Professor afirmou não fazer a distinção entre titulares e reservas e deu a entender que a saída de Scarpa e Danilo não são problemas tão sérios assim, no que eu discordo.

Sobre este último ponto, creio que é evidente que a saída dos dois jogadores trouxe impactos à equipe mas também me parece evidente que o trabalho coletivo vem sendo capaz de compensar essas ausências, até porque o Professor não tem alternativas e tem que trabalhar com o que tem já que não foram contratados reforços. O problema é que temos um bom time titular mas não temos reservas que consigam apresentar a mesma qualidade dos titulares.

Na questão seguinte, Abel Ferreira foi questionado sobre a relação de "amor e ódio" com a torcida, que num momento picha os muros do Allianz Parque e depois enche o Morumbi quebrando recordes de público.

Em sua resposta, nosso treinador deixou claro o papel da imprensa em tudo isso. Afirmou que cabe a cada repórter ou jornalista escolher em qual ponto quer focar e afirmou que quem tem um microfone ou uma câmera à frente possui uma verdadeira arma. Ele citou como exemplo da abordagem manipuladora da imprensa o fato dele ter sido questionado inúmeras vezes acerca do seu comportamento na beira do gramado mas nenhum jornalista tê-lo abordado ou parabenizado pelos inúmeros prêmios que recebeu ou pela excelente vendagem do seu livro e a doação da parte de direito dele nas vendas para instituições de caridade brasileiras.

Como alguém que trabalha com mídia, reconheço que Abel Ferreira tem razão. O jornalista tem um poder de influência muito grande sobre as pessoas. Infelizmente a maioria deles deixou de se preocupar com fatos concretos e passou a se preocupar apenas com a divulgação daquilo que alimenta as narrativas que eles mesmos criam.

O fato dos prêmios e condecorações recebidas por Abel Ferreira terem tido pouco ou nenhum destaque por parte da mídia é um exemplo perfeito, pois se fossem divulgadas e exploradas com a mesma intensidade com que exploraram o recente episódio do chute no microfone, colocariam por terra a imagem negativa que construíram dele. Afinal como associar o homem que teve méritos para receber o título de Cidadão Paulistano à incitação de atos de violência doméstica, como foi feito?

A pergunta seguinte foi sobre as expectativas em relação às nossas Crias Endrick e Giovani. O Professor foi questionado se há diferenças na maneira como ele lida com cada jogador, já que possuem idade e maturidade diferentes.

Em sua resposta o professor disse que não gosta de falar dos jogadores individualmente e explicou que a maneira como idolatramos os jogadores pode ser muito prejudicial, dizendo "esqueça isso". De fato a idolatria existe e ela é a grande responsável por criar expectativas na torcida, que acabam por resultar numa pressão tremenda sobre os jogadores.

É uma equação complicada mas sabemos o seu resultado pois altas expectativas geram mais pressão sobre os atletas, que ao não corresponderem às expectativas veem elas transformadas em cobranças, o que aumenta ainda mais a pressão e gera dificuldades na conquista de resultados, que vão alimentar ainda mais as cobranças, num círculo vicioso cujo grande prejudicado acaba sendo o atleta e, no final, o próprio Palmeiras.

O Professor enfatizou que é necessário ter paciência tanto com o Endrick como com o Giovani porque, segundo ele, ambos ainda estão em formação, embora em níveis diferentes. Abel usou a expressão "bestial e besta", afirmando que num dia consideramos o jogador bestial e se no dia seguinte não faz um gol já se torna uma besta! Ele tem razão, muita gente quer jogar nos ombros destes garotos responsabilidades que eles ainda não têm condições de assumir. Não podemos nunca perder de vista que, apesar de ser fora da curva, Endrick tem apenas 16 anos e por isso não podemos esperar ou cobrar dele atitudes e resultados de um jogador adulto e experiente.

Achei interessante o Professor Abel Ferreira enfatizar que o Palmeiras nunca tinha utilizado tantos garotos formados em sua base e nem feito bons negócios com eles no mercado da bola.

Apesar desse comentário do Professor, registro aqui que acho que o Palmeiras ainda não trabalha de forma adequada para utilizar os jogadores formados e também para vender aqueles que não forem utilizados. A rápida venda do Endrick foi uma exceção, já que na maioria das vezes os jogadores acabam sendo vendidos muito depois do tempo ideal, quando já não valem tanto. Creio que o caso do Gabriel Veron seja um bom exemplo do que quero dizer.

Em seguida, a jornalista citou o fato de Abel Ferreira ser anunciado pelo locutor do estádio como "o treinador mais invejado do Brasil" e perguntou como ele se sente em relação a isso, no que o Professor foi enfático ao dizer que se sente plenamente abençoado por Deus e grato por tudo o que recebeu.

Chamo a atenção para o fato de Abel Ferreira ter afirmado em mais de um momento da coletiva que é um homem competitivo, que se esforça por fazer o melhor, que para isso trabalha muito e que nessa busca pela excelência muitas vezes comete excessos, reconhecendo que precisa melhorar.

Na sequência o Professor foi questionado acerca da escolha do Morumbi para este clássico e ele respondeu que é um bom estádio, com excelente gramado. Realmente achei o gramado excelente e até citei em minha resenha que fiquei impressionado com o sistema de drenagem do estádio pois mesmo com uma chuva intensa durante a partida não se viam poças d'água no gramado.

Além disso, afirmou que vê a rivalidade com o São Paulo como algo que deve se limitar ao campo de futebol e lembrou a amizade que tinha com o ex-treinador são-paulino Hernán Crespo. Afirmou ainda que fora das quatro linhas os clubes deveriam se unir e trabalhar conjuntamente para melhorar e valorizar o produto futebol.

Um ponto interessante nesta resposta foi que o Professor revelou que um dos motivos do Morumbi ter sido escolhido foi que o gramado da Arena Barueri, que seria a alternativa natural, estava "uma bosta" segundo ele. Terceira vez que usou essa palavra, rachei de rir!

Na última pergunta o Professor foi questionado acerca da evolução do comportamento de Gabriel Menino, que tem melhorado não apenas em relação ao desempenho dentro de campo mas também na questão comportamental.

Abel Ferreira explicou que algumas pessoas, como ele próprio, crescem e amadurecem mediante episódios que causam dor física ou mental e que o fato de ter ficado fora do Mundial de Clubes trouxe ao Gabriel Menino a dor mental que o fez refletir sobre as suas atitudes e sobre o seu futuro no futebol. Isso gerou o crescimento que vemos agora dentro de campo, tanto em termos técnicos como em relação ao seu comportamento.

Ainda sobre a questão comportamental, o Professor voltou a citar o episódio recente da Supercopa do Brasil e frisou que só teve aquela reação porque um erro grotesco aconteceu antes. Ele reafirmou que a incompetência o deixa irado. Aproveitou para lembrar que já havia dito no passado, quando foi criticado, que o futebol profissional não pode ter uma arbitragem amadora e voltou a afirmar que a CBF deve tomar as providências para que a arbitragem receba a preparação necessária para que alcance o nível de excelência visto na Europa, por exemplo.

A questão da arbitragem realmente precisa ser vista com atenção. As regras também precisam ser revistas para que sejam claras e facilmente aplicáveis pelos árbitros em campo. As regras devem ser elaboradas de forma que a sua interpretação seja simples, para que as decisões sejam justas e gerem menos dúvidas e contestações.

Infelizmente o não cumprimento de regras parece ser uma questão cultural. Digo isso com a experiência de ter vivido metade da minha vida no Japão, um país onde as regras são obedecidas à risca e as coisas funcionam como devem. Creio que levaremos anos para alcançar os padrões de arbitragem europeus mas nenhuma mudança ocorrerá se não tomarmos a iniciativa de promovê-la.



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