As ofensas dirigidas a Abel Ferreira
O Palmeiras conquistou de forma
espetacular o título inédito da Supercopa do Brasil na tarde do último sábado
(28) no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Em meio aos festejos da torcida
que canta e vibra, infelizmente tivemos que testemunhar mais uma vez
jornalistas e comentaristas esportivos depreciando a nossa conquista utilizando
os mais variados argumentos.
Este tipo de reação sempre ocorre e
até já era esperada. Nós, palmeirenses, até nos divertimos com algumas reações
dos rivais diante das nossas vitórias. Faz parte da rivalidade e até certo
ponto posso considerar saudável pois faz parte do espírito que sempre envolveu
o futebol e as torcidas.
O que não podemos aceitar são
situações onde as pessoas extrapolam os limites não apenas do bom senso mas
também os limites éticos e até legais.
Nossas leis dão a qualquer cidadão o
direito de se manifestar com liberdade. É um direito constitucional registrado
em cláusula pétrea. Porém, o fato de ser um direito garantido por lei não
significa que não existam limites no seu exercício.
Temos que considerar que a vida em
sociedade e a relação entre as pessoas são regidas não apenas pelas leis
escritas mas também por limites e imposições éticas e morais.
Isto significa que é esperado que
cada indivíduo exerça os seus direitos com o mínimo de sabedoria e
discernimento, com cada pessoa aplicando a si mesma uma autocensura baseada em
princípios éticos e morais antes de chegar às imposições legais.
Em outras palavras, cada pessoa pode
exercer os seus direitos desde que ao fazê-lo não prejudique os outros. Cada um
pode se expressar com liberdade desde que com responsabilidade, não
ultrapassando os limites éticos, morais e do próprio bom senso.
Como vimos, muitos dos profissionais
da imprensa não têm sido capazes de exercer a sua liberdade de expressão dentro
de limites morais e éticos, fazendo declarações que atropelam o bom senso e até
mesmo ultrapassam limites legais. O profissionalismo não tolera tais atitudes e
na verdade essas pessoas nem poderiam ser consideradas profissionais.
Vale lembrar aqui que a mesma lei que
dá a cada um o direito à liberdade de expressão também pune aqueles que
extrapolam os limites do bom senso, da ética e da moral, prevendo punições para
aqueles que assim o fizerem.
E, ao contrário do que alguns
vociferam, a punição aos que excedem os limites citados não é uma restrição à
liberdade de expressão, trata-se sim de um chamado à civilidade e um lembrete
de que a liberdade de uma pessoa termina quando começam os direitos e
liberdades da outra pessoa.
No caso específico envolvendo a nossa
recente conquista, vimos vários jornalistas tecendo críticas e fazendo
comentários incoerentes não apenas ao Palmeiras mas também dirigiram duros
comentários, críticas e ofensas ao Professor Abel Ferreira.
Nenhuma pessoa ou instituição está
imune a críticas. A questão aqui é como fazê-las de forma responsável e sem
ultrapassar os limites do bom senso, da ética, da moral e das leis. Os
jornalistas, comentaristas e demais pessoas da mídia precisam entender que
justamente por serem pessoas expostas à opinião pública precisam agir e falar
com mais responsabilidade.
Alguns chegam a ser incoerentes, pois
alegam que determinadas atitudes de Abel Ferreira à beira do gramado podem
influenciar outras pessoas e se esquecem das próprias palavras e atitudes. E
teve até quem fizesse uma ginástica mental e retórica para ligar o destempero
de Abel Ferreira durante as partidas com a violência doméstica, ignorando
completamente o fato de Abel Ferreira ser, até onde sabemos, marido e pai
exemplar.
Quem acompanha Abel Ferreira no dia a
dia sabe que ele é uma pessoa movida por fortes valores morais e éticos.
Podemos constatar isso facilmente observando a maneira como ele lida com os
nossos jogadores, principalmente os mais jovens, os quais sempre tenta
direcionar e orientar no caminho correto, tentando afastá-los de situações que
poderão ser nocivas não apenas à carreira profissional mas também para a vida
pessoal. Como o próprio Abel costuma dizer, ele é um formador de homens e como
tal trabalha dentro de elevados padrões de comportamento.
Na minha opinião é justamente por ter
altos padrões morais e éticos que vemos Abel Ferreira explodir em determinadas
situações. E que situações são estas? Geralmente são situações nas quais, na
visão dele, ocorreram injustiças tremendas que foram minimizadas e não foram
combatidas por quem deveria fazê-lo.
No caso específico desta partida, há
o episódio no qual o Professor chuta um microfone à beira de campo e em seguida
é expulso. O que o levou a esta explosão de fúria? O claro escanteio que não
foi marcado a favor do Palmeiras e que mesmo que não tivesse sido claro para o árbitro
principal poderia ter sido visto por um dos auxiliares ou pelo VAR. Porém
ninguém se manifestou e esta clara injustiça, que prejudicou o Palmeiras, o
levou ao ataque de fúria por perceber que aqueles a quem caberia corrigir a
injustiça nada fizeram e não havia a quem recorrer.
A atitude de Abel Ferreira pode ser
criticada? Claro que sim! Como já mencionei nenhuma pessoa ou instituição está
livre de críticas. Porém isso não significa que essas críticas possam ser
feitas sem que se observe determinados limites. Primeiro os éticos e morais e
depois os legais.
O Palmeiras anunciou na noite de
ontem (30) que acionará judicialmente aqueles que extrapolaram em seus
comentários associando o Professor Abel Ferreira a um conhecido goleiro
condenado por homicídio. Creio que deveriam incluir a influenciadora digital
que o associou à violência doméstica, colocando-o como incitador de atos que
são considerados crimes pela nossa legislação.
Diz a nota divulgada pelo Palmeiras
em suas redes sociais: "A Sociedade Esportiva Palmeiras repudia, mais
uma vez, os ataques irresponsáveis direcionados ao técnico Abel Ferreira por
alguns jornalistas descompromissados com a isenção e o respeito.
É inaceitável que um treinador de
insuspeita integridade seja associado a qualquer forma de violência, quanto mais
a uma pessoa condenada por homicídio. O clube e o técnico tomarão as medidas
judiciais cabíveis."
O que diz a lei?
Como já mencionado, a nossa lei
concede liberdade de expressão a cada brasileiro mas também pune aqueles que não
se expressarem dentro de limites éticos e morais. Nossa legislação prevê três
crimes que podem ser cometidos através da livre expressão de ideias e que são
considerados crimes contra a honra. São os crimes de calúnia, difamação
e injúria.
Vamos entender a diferença entre os
três crimes e saber o que a lei diz sobre cada um deles:
Calúnia
Caluniar - É dizer de forma mentirosa
que alguém cometeu ato que constitui crime previsto em lei. Para a ocorrência
do crime de calúnia é essencial que haja atribuição falsa de crime. Ex: dizer
que fulano furtou o dinheiro do caixa, sabendo que não foi ele, ou que o
dinheiro não foi furtado.
Art. 138 - Caluniar alguém,
imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois
anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem,
sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os
mortos.
Difamação
Difamar – É tirar a boa fama ou o
crédito, desacreditar publicamente atribuindo a alguém um fato específico
negativo. Para ocorrer o crime de difamação o fato atribuído não pode ser considerado
crime. Ex: Dizer para os demais colegas que determinado funcionário costuma
trabalhar bêbado.
Art. 139 - Difamar alguém,
imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um
ano, e multa.
Injúria
Injuriar – É atribuir palavras ou
qualidades ofensivas a alguém, expor defeitos ou opinião que desqualifique a
pessoa, atingindo sua honra e moral. O exemplo mais comum são os xingamentos.
Art. 140 – Injuriar alguém,
ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou
multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a
pena:
I – quando o ofendido, de forma
reprovável, provocou diretamente a injúria;
II – no caso de retorsão imediata, que
consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em
violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
considerem aviltantes:
Pena – detenção, de três meses a um
ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na
utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e
multa.
III - na presença de várias pessoas, ou
por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60
(sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
Parágrafo único - Se o crime é cometido
mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
Não sou da área do Direito mas creio
que qualquer pessoa seja perfeitamente capaz de ler e compreender o que a lei
diz e também é fácil de entender onde as falas dos jornalistas contra Abel
Ferreira podem ser enquadradas.
O que eu quero é que aqueles que
tenham infringido a lei sejam devidamente punidos como a própria lei prevê. As
pessoas tem total liberdade de expor o que pensam mas isso não significa que
estejam isentas às consequências.
Se uma pessoa não quer ser enquadrada
na lei, deve então se enquadrar em seus próprios limites éticos ou morais. O
grande problema é que muita gente hoje, principalmente na velha imprensa, já
não possui qualquer valor ético ou moral.
É o resultado visível do trabalho de
desconstrução de valores que nossa sociedade vem sofrendo nas últimas décadas.
Muitos debocham quando falamos de limites éticos e morais, como se fossem
conceitos arcaicos e que não possuem espaço numa sociedade moderna.
Evidentemente quem pensa assim está
equivocado. Toda sociedade sem limites acaba por desintegrar-se. Os limites
éticos, morais e legais existem para preservar a própria sociedade e,
principalmente, para preservar as pessoas que compõem essa sociedade.
Querer falar, acusar e adjetivar as
pessoas de forma irresponsável e inconsequente não pode jamais ser considerado
como algo corriqueiro ou banal.
A imprensa precisa buscar a sua
respeitabilidade perdida e atitudes como as desses jornalistas, comentaristas e
influenciadores só pioram a situação da já decadente e velha imprensa.
No fundo, tudo se resume a uma
questão de caráter.
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